Disciplina: Tópicos Especiais em Cognição B (IPG012)

Horário: Seg, 09:20 às 11:00

Início das aulas: 26 de Julho

Professor: Mateus Thomaz Bayer

 

Ementa 2021.1: 

 

INCURSÕES SOBRE A GUERRA A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT

Contra uma recorrente leitura “pacificada” de Michel Foucault, a presente disciplina busca reestabelecer a força bélica de seu pensamento a partir da retomada de suas teses lançadas no momento de seu maior ativismo político. Trata-se do período em que coincidem o surgimento do Grupo de Informações sobre as Prisões (GIP) e os cursos “Teorias e Instituições Penais” e “A Sociedade Punitiva” – proferidos respectivamente entre os anos de 1971-1972 e 1972-1973 no Collège de France. 

Há nesse período um papel central conferido à análise da guerra como condição de possibilidade, de existência e de funcionamento da organização política da forma-Estado – sendo esta não apenas o resultado de uma “guerra vencida”, mas também a própria atuação de uma guerra em curso por meio de suas instituições (sistema judiciário, polícia, sistemas de vigilância moral, etc.). Desse modo, a disciplina terá como ponto de partida o estudo das teses foucaultianas sobre a relação imanente entre a guerra e a política institucional, assim como a relação entre a formação do Estado e a unificação do poder de fazer a guerra – tais como são apresentadas nos cursos referidos.  

Para além do que o próprio Foucault havia dimensionado, podemos rastrear toda uma série de escritos que – direta ou indiretamente – dialogam com suas teses, confrontando as mesmas com seus limites e suas possibilidades. 

Nesse sentido serão analisadas: (1) as teses de Achille Mbembe a respeito da guerra colonial enquanto matriz de todas as guerras modernas e seu papel na fundação política do Ocidente; (2) as teses político-antropológicas de Pierre Clastres e o pensamento de Ailton Krenak a respeito das formas de organização e resistência que se opõem e prescindem à forma-Estado; e (3) as teses de Silvia Federici, Verônica Gago e Rita Segato a respeito do lugar central ocupado pela guerra contra as mulheres na formação do Estado patriarcal.

As últimas aulas serão dedicadas ao estudo e debate do livro “Autodefesa: Uma filosofia da violência” de Elsa Dorlin na medida em que, como aponta Judith Butler, trata-se de “uma obra que propõe uma perspectiva de resistência vigorosa para nossos tempos, para todas as pessoas cujas vidas lhes são negadas de antemão, e cuja insurgência é considerada ato criminoso por aquele que agem para manter as condições de subjugação”.